A ESTRELA DA NOITE

- Psiu!... Devagar!... Agora somente o silêncio é quem reina na Floresta de Poesia. Os bichinhos estão todos dormindo, encantados. E uma frouxa luz amarela protege a Cidade de Capim. As estrelas cadentes cruzam o céu, numa festa cintilante. Os sonhos nascem. São os guardiões da Floresta. Uma paz imensa envolve os corações que amam... São perfumes de flores... Risos de criança... Cantos de poeta em noite calma! Fiquem todos em paz... E que o amanhã desperte, na luz de um novo dia.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

DO AMOR QUE MOVE O CÉU E AS MAIS ESTRELAS...



"(...) Mas a sementinha, curiosa, que não se conformava mais com uma ideia tão limitada de mundo, quis se aventurar. Com toda coragem, começou a subir... subir... subir... até que, encontrando o limite entre a terra e o ar, sentiu o calor do sol batendo em seu rosto e viu os raios luminosos do dia pela primeira vez. 

     Ficou ao mesmo tempo assustada e embevecida. Não imaginava que pudesse existir algo assim tão belo. 

     Começou a conhecer o mundo, as coisas, as cores, as folhas, as flores, os rios, as árvores e o sopro do vento. 

        Em tanto encanto olhou para si mesma... E percebeu que também havia mudado. Já não era mais uma semente, era um broto, uma folhinha verde crescendo... E viu que tudo isso era bom, que o amor é uma melodia silenciosa que toca mais fundo na alma... 

       Como contar às outras o que descobriu? Não poderia mais voltar. Mesmo se voltasse elas não acreditariam. 

          Era grandioso demais tudo o que havia encontrado. Tão diferente daquela covinha escura debaixo da terra. Contudo, era ainda lá que mantinha suas raízes, que lhe davam forças para ficar de pé e energia para viver. E isso também era bom.Quando chegou a noite, a lua clareou o céu e as estrelas brilharam intensamente. A “sementinha em folha” viu que ainda havia muita coisa para conhecer e amar. E, mesmo que viesse a sofrer por isso muitas vezes, valeria à pena. 

       Sim, valeria à pena doar todo o seu perfume e toda a sua essência aos braços do infinito céu azul, cheio de mistérios e estrelas cintilantes."

(Trecho da fábula "As três sementinhas", Floresta de Poesia, página 27).


segunda-feira, 3 de agosto de 2015

CAMINHOS PARA A FLORESTA...

(...) A tarde avermelhada ia caindo vagarosamente naquele pedacinho de chão, onde estava o Velho Besouro, sentado em sua tampinha de garrafa, com o chapéu ao colo e a bengala entre as mãos, tendo em volta a Baratinha, de pé, com as mãos na cintura, o Ratinho todo encolhido perto da Formiguinha e o Calanguinho com as pernas cruzadas e as mãos no queixo, com ar de sabido.



O Besouro olhava sempre ao longe, como que buscando no infinito a primeira estrela da tarde, a anunciar a saudade e as canções de uma terra distante, de um olhar amigo ou até mesmo de um amor.  Em torno do grupinho via-se uma latinha de coca-cola vazia, em pé, servindo de muro. Uma tampinha de caneta, onde a Formiguinha encostava o pequeno corpinho frágil. Uma velha caixinha de fósforo, jogada fora e, ao fundo, prédios, ruas, pontes, postes, torres e outras coisas estranhas de cidade grande.

De repente, a Baratinha se assustou:

- Cadê o riacho? - disse interrogativa, olhando para um filete de água que descia da montanha.

- O riacho fugiu... - respondeu o Besouro.

- Cadê a floresta? - tomou a vez o Ratinho. - Só vejo casas e prédios.

- Isso é muito triste - lamentou-se a Formiguinha.

- Ainda existe um lugar...

- Que lugar é esse? - perguntou a Formiguinha, levantando apressada da sua tampinha de caneta.

O Besouro respondeu:

- Vê além, muito além daqueles prédios, daquelas serras e montanhas?

- Sim - respondeu o Calanguinho.

- Lá ao longe - tornou o Besouro -, lá onde surge a primeira estrela da tarde, onde a brisa descansa suas asas, lá existe a Floresta de Poesia. (...)

(Patchwork da Dona Lelei - Panor)



QUALQUER PALAVRA SERENA

Para Adriel Vidal Sabadine e Alessandra Félix.


Qualquer palavra serena

Que, enfim, transmita o amor.
É o que disse uma lagarta
Para o amigo beija-flor.

Qualquer palavra serena
Que sirva de uma lição
E enfeite todo o jardim
Deste nosso coração.

O beija-flor bateu asas,
Levando os ensinamentos
Pra todos da laranjeira.

E, após alguns momentos,
A lagartinha dormiu
Na folha da goiabeira.

(Mensagem da Floresta de Poesia, página 39)


(...)

CANSADA de um longo dia de caminhada por folhas, galhos, árvores, raízes e terras distantes, uma lagartinha resolveu parar um pouco e refletir sobre em qual direção deveria prosseguir na manhã seguinte. Estava no alto de uma enorme goiabeira, pensando calmamente, quando apareceu um ligeiro beija-flor:

 - Boa tarde, mocinha - disse o beija-flor.

- Boa tarde - respondeu a lagartinha.  - Aonde o amigo vai assim tão apressado?


- Vou visitar algumas flores, um beija-flor da minha idade precisa aproveitar a vida.

- Muito bem - falou a lagartinha. - É preciso conhecer as flores.

- E eu as conheço - disse o beija-flor.

- E seus espinhos, você os conhece? - perguntou a lagarta.

- Não, procuro evitá-los. Dizem que são muito doloridos. Por isso, meus encontros são todos passageiros. Como todo beija-flor, descobri o amor assim.

- O amor pode ser bem maior do que imaginamos, quando aprendemos a amar até mesmo aquilo que mais nos desagrada.

- Pode ser - disse o beija-flor, mas isso é muito difícil.

- É preciso ao menos tentar - insistiu a lagarta.

- O que mais a desagrada? - perguntou o beija-flor.

- Não sei. Talvez o cansaço de estar sempre presa ao chão, andando de um lado para o outro e enfrentando perigos a todo instante.

- Não entendo como você consegue amar este sacrifício todo.

- É a minha vida – explicou a lagartinha. - E é necessário amá-la do jeito que ela é. Só assim poderei amar a quem está ao meu redor.

- Gostaria de saber o que posso dizer para tornar outras pessoas felizes, - comentou o beija-flor.

- Diga qualquer palavra serena - foi a resposta da lagartinha.


Qualquer palavra serena

Que, enfim, transmita o amor.
É o que disse uma lagarta
Para o amigo beija-flor.

Qualquer palavra serena
Que sirva de uma lição
E enfeite todo o jardim
Deste nosso coração.

O beija-flor bateu asas,
Levando os ensinamentos
Pra todos da laranjeira.

E, após alguns momentos,
A lagartinha dormiu
Na folha da goiabeira.

Marcador de livro 
Edição de 2002 - Elaborado por Adriel Vidal Sabadine.