(...) A tarde avermelhada ia
caindo vagarosamente naquele pedacinho de chão, onde estava o Velho Besouro,
sentado em sua tampinha de garrafa, com o chapéu ao colo e a bengala entre as
mãos, tendo em volta a Baratinha, de pé, com as mãos na cintura, o Ratinho todo
encolhido perto da Formiguinha e o Calanguinho com as pernas cruzadas e as mãos
no queixo, com ar de sabido.
O Besouro olhava sempre
ao longe, como que buscando no infinito a primeira estrela da tarde, a anunciar
a saudade e as canções de uma terra distante, de um olhar amigo ou até mesmo de
um amor. Em torno do grupinho via-se uma
latinha de coca-cola vazia, em pé, servindo de muro. Uma tampinha de caneta,
onde a Formiguinha encostava o pequeno corpinho frágil. Uma velha caixinha de
fósforo, jogada fora e, ao fundo, prédios, ruas, pontes, postes, torres e
outras coisas estranhas de cidade grande.
De repente, a Baratinha
se assustou:
- Cadê o riacho? -
disse interrogativa, olhando para um filete de água que descia da montanha.
- O riacho fugiu... -
respondeu o Besouro.
- Cadê a floresta? -
tomou a vez o Ratinho. - Só vejo casas e prédios.
- Isso é muito triste -
lamentou-se a Formiguinha.
- Ainda existe um
lugar...
- Que lugar é esse? -
perguntou a Formiguinha, levantando apressada da sua tampinha de caneta.
O Besouro respondeu:
- Vê além, muito além
daqueles prédios, daquelas serras e montanhas?
- Sim - respondeu o
Calanguinho.
- Lá ao longe - tornou
o Besouro -, lá onde surge a primeira estrela da tarde, onde a brisa descansa
suas asas, lá existe a Floresta de Poesia. (...)
(Patchwork da Dona Lelei - Panor) |
Nenhum comentário:
Postar um comentário