O tema escolhido por
Wagner Fernandes é oportuníssimo. O autor trata a contradição do modelo de
desenvolvimento com a consciência de professor de literatura e a sensibilidade
de poeta e músico que congrega em si. Vê o ponto de vista do ser urbano e
transporta-se, ao mesmo tempo, para o mundo silvestre. Wagner se faz de Velho
Besouro para dar alma e fala a animais que dialogam sobre os dois lados da
civilização. Uma crítica ao modelo consumista, em contraste com a exuberância
da Floresta que por si só é pura Poesia.
Na cidade grande é que a
fábula tem início. Os animais, que lá vivem, sem perceber o fardo que carregam,
são despertados pela sabedoria de um Besouro, que os põe a pensar, dialogar,
buscar e construir um mundo melhor.
O lugar em que o verde
nunca morre é o reduto do poeta e do compositor, que se unem em um só e compõem
diversas modinhas, interpondo ritmos e estilos diferentes, às vezes rurais, às
vezes modernos, mas que, magistralmente, trazem as coisas da natureza ao
domínio deste belíssimo musical.
Não se esqueceu de pôr
uma pitada de romance na relação dos personagens, que vão extraindo da floresta
e movimentando um cenário, ao mesmo tempo, encantado e real: A formiga
Elizabeth que se enamorou do Vaga-lume, dançou forró e Reggae; pôs serenata em
roda de amigos; viola; festa de aniversário; e trabalho de abelha fazendo mel.
E falou do marimbondo professor, muito a propósito da pouco reconhecida
profissão de professor.
Faz um remelexo com
violão, violeta e violação para criar metáfora com o “vento” que vem “forte” e
deixa as flores no chão, alusão certa a um assunto que está na pauta: as
catástrofes nucleares.
E, oportunamente,
termina o musical cantando a esperança que sempre há guardada no coração dos
justos, valendo-se de um verso que espanta o mal na fala do Velho Besouro: “enfim o tal velho pediu pra que a brisa
guardasse o segredo do lado de cá, que o tempo levasse pra longe os murmúrios
(sofrimentos – grifo meu) do lado de lá.”
(Edmundo de Carvalho na casa de Wagner Fernandes Fonseca e Idalina Sabadine, em 2004)
Edmundo
de Carvalho[1]. Silveiras, 04 de maio
de 2011.
[1] Edmundo
de carvalho (22/10/1949) é autor do livro de contos TRAVESSIA. Formou-se em
Engenharia e trabalhou na Fábrica de Vagões, em Cruzeiro, SP. Em São José dos
Campos, onde morou por 35 anos, foi vice-prefeito, Secretário de Planejamento,
Secretário do Meio Ambiente e Presidente da Fundação Cultural Cassiano Ricardo.
Mora, atualmente, em Silveiras-SP, sua cidade natal.
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