A ESTRELA DA NOITE

- Psiu!... Devagar!... Agora somente o silêncio é quem reina na Floresta de Poesia. Os bichinhos estão todos dormindo, encantados. E uma frouxa luz amarela protege a Cidade de Capim. As estrelas cadentes cruzam o céu, numa festa cintilante. Os sonhos nascem. São os guardiões da Floresta. Uma paz imensa envolve os corações que amam... São perfumes de flores... Risos de criança... Cantos de poeta em noite calma! Fiquem todos em paz... E que o amanhã desperte, na luz de um novo dia.

sexta-feira, 31 de julho de 2015

HISTÓRIAS DE UM VELHO BESOURO

UM Velho Besouro, muito experiente, contou consciente mil coisas estranhas no lado de lá. Os outros, mais jovens, ouviram atentos e por certos momentos diziam: - Será?

- Sim - respondia o Besouro. - Andei longes terras, vi coisas de serras e coisas do mar.


- Quais coisas? - perguntou uma Baratinha urbana muito curiosa.



- Muitas coisas - explicava o Velho. - Estrelas, luares... Vi prédios e casas de vários andares. Vi carros e asfaltos em muitos lugares. Navios, planaltos, planícies e matas. Desertos, oásis, riachos e cascatas. Estradas de pedra e estradas de chão.

- Até avião! - disse rindo um Calanguinho.

- Certamente - respondeu o besouro -, mas pelo que vejo isso não é nenhuma novidade por aqui. Na cidade grande não faltam aviões e helicópteros.

- E carros! - completou uma Formiguinha muito sabida. - Tantos que é até difícil de atravessar a rua.

- O que mais o senhor viu? - quis saber um Ratinho miúdo, que até então apenas ouvia a conversa.

- Vi povos distantes, de várias culturas: da Grécia os costumes e a filosofia. Vi a geografia de cada lugar. Subi em montanhas, em longas alturas. Vi neves e polos, portos e ilhas. Fui às Antilhas, andei longas milhas, por trilhas e trilhas, da China ao Egito, nas altas pirâmides. De Roma às estradas de Jerusalém.

- Isso tudo?! - assustou-se o Calanguinho.

Continuava o besouro:

- Do norte, com sorte. Do sul, leste e oeste eu já fui também. Pelos continentes vi mundos e gentes de cor diferente - de peles vermelhas, negras e brancas. Subi em barrancos, voei pelas nuvens. Li pingos e livros e dancei com a brisa..., parei na janela daquele edifício. - Apontava para um enorme prédio ao longe.

- Ah! Aquilo lá eu conheço - disse o Calanguinho.  - Já fui algumas vezes naquele pedaço. Ainda outro dia fui tirado de lá a pontapé.

Os outros bichinhos riam de doer a boca, enquanto o Velho Besouro se ajeitava, sentado numa tampinha de garrafa. Aprumava o corpo e descansava o olhar em direção ao por do sol, que descia lentamente entre prédios, torres, antenas e montanhas alaranjadas da cidade grande.
- Em que o senhor está pensando? - perguntou a Baratinha.


- Na casa dos humanos - disse o Besouro. – Por aqui vejo perigos que podem ser nocivos a todos nós.

- Que perigos? - indagou o Ratinho.

- Vocês nasceram aqui na cidade, cresceram adaptados com este clima, com esta poluição sonora e visual, com este ar diferente...

- Existe outro ar? - indagou a Formiguinha.

- Sim! - respondeu o Besouro. - Existe um ar bem mais puro, não contaminado pelas fumaças dos carros e das fábricas.

- Mas, sem carros e fábricas não existiria cidade grande - retrucou duvidoso o Ratinho.

- Talvez - disse o Velho. – Hoje, belas criações da natureza, como as árvores e os rios, não conseguem viver...

- Como são cruéis! - disse a Baratinha tremendo de medo.

- Nem todos são assim - continuou o Besouro. - Algumas pessoas lutam a vida inteira para proteger a natureza. Infelizmente são poucas. A maioria dos homens não consegue viver sem causar algum tipo de morte ao seu redor.

- Ora! Cada vez que alguém joga lixo num rio, está destruindo a casa de muitos seres vivos.

- Casa dos peixes!!! - falou bem alto o Calanguinho

- Não consigo entender o que leva o homem a destruir tanto o lugar onde vive - disse num profundo lamento a Baratinha.

- Para facilitar a vida - respondeu o Ratinho.

- Coisas do mundo dos homens - disse o Calanguinho.


A tarde avermelhada ia caindo vagarosamente naquele pedacinho de chão, onde estava o Velho Besouro, sentado em sua tampinha de garrafa, com o chapéu ao colo e a bengala entre as mãos, tendo em volta a Baratinha, de pé, com as mãos na cintura, o Ratinho todo encolhido perto da Formiguinha e o Calanguinho com as pernas cruzadas e as mãos no queixo, com ar de sabido.
 (...) 



 O Besouro olhava sempre ao longe, como que buscando no infinito a primeira estrela da tarde, a anunciar a saudade e as canções de uma terra distante, de um olhar amigo ou até mesmo de um amor.  Em torno do grupinho via-se uma latinha de coca-cola vazia, em pé, servindo de muro. Uma tampinha de caneta, onde a Formiguinha encostava o pequeno corpinho frágil. Uma velha caixinha de fósforo, jogada fora e, ao fundo, prédios, ruas, pontes, postes, torres e outras coisas estranhas de cidade grande.

De repente, a Baratinha se assustou:

- Cadê o riacho? - disse interrogativa, olhando para um filete de água que descia da montanha.

- O riacho fugiu... - respondeu o Besouro.

- Cadê a floresta? - tomou a vez o Ratinho. - Só vejo casas e prédios.

- Isso é muito triste - lamentou-se a Formiguinha.

- Ainda existe um lugar...

- Que lugar é esse? - perguntou a Formiguinha, levantando apressada da sua tampinha de caneta.

O Besouro respondeu:

- Vê além, muito além daqueles prédios, daquelas serras e montanhas?

- Sim - respondeu o Calanguinho.

- Lá ao longe - tornou o Besouro -, lá onde surge a primeira estrela da tarde, onde a brisa descansa suas asas, lá existe a Floresta de Poesia.

- Eu consigo ver a Estrela - falou muito alegre o Calanguinho.

- Nós também estamos vendo - disseram os outros três bichinhos.








- Quando a Estrela aparece, muitas vidas podem ser transformadas. É a paz. A esperança de um dia melhor... Sabedoria e Fé.

Lá, embaixo daquela Estrela, é que existe a Floresta de Poesia, a Cidade de Capim.

- Conta pra gente algumas histórias desse lugar - pediu a Formiguinha, tendo o apoio do Calanguinho, do Ratinho e da Baratinha.


E o Velho Besouro começou a narrar as aventuras dos bichinhos da Floresta de Poesia.




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