A ESTRELA DA NOITE

- Psiu!... Devagar!... Agora somente o silêncio é quem reina na Floresta de Poesia. Os bichinhos estão todos dormindo, encantados. E uma frouxa luz amarela protege a Cidade de Capim. As estrelas cadentes cruzam o céu, numa festa cintilante. Os sonhos nascem. São os guardiões da Floresta. Uma paz imensa envolve os corações que amam... São perfumes de flores... Risos de criança... Cantos de poeta em noite calma! Fiquem todos em paz... E que o amanhã desperte, na luz de um novo dia.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

AS  TRÊS SEMENTINHAS

E conheça, enfim, o que em si é belo.
(Platão, O Banquete)

ERAM três sementinhas plantadas debaixo da terra.

Estavam ali por acaso - pensavam. Não sabiam como ou por que foram lançadas a um lugar tão escuro. Desconheciam o sol, o dia, o brilho das estrelas e a claridade do luar. Ouviam, às vezes, o cantar de um pássaro. Não compreendiam. Pensavam que era a terra quem cantava. Não imaginavam que havia uma infinidade de coisas acima daquele manto de terra, que pra elas era tudo.

Conheciam o mundo inteiro naquele pequeno pedaço de chão. (Para elas, o mundo era apenas o que se podia ver ou tocar).
  
Assim passavam os dias...

Certa vez, uma gotinha d’água conseguiu escorregar bem devagarzinho pelas frestas do solo e bateu de cheio nas sementinhas. Foi um dia de luta. Elas passaram muito frio e quase adoeceram após tamanha enxurrada.

O tempo passou. A terra ficou novamente aquecida - presente do semeador para a semeadura. E uma das três sementinhas ficou tão agitada que escolheu, apesar das incertezas, descobrir de onde havia vindo aquela gota d’água que as encharcou.

- Vamos! Deve haver alguma coisa diferente lá em cima - dizia, apontando para o alto.

- Tolice, não existe nada lá, além de terra e mais terra, que já conhecemos! - respondiam as outras.

- Mas vocês não têm curiosidade em conhecer algo novo? - insistia a primeira sementinha.

E as outras falavam:

- O mundo é apenas isto que vemos, o que os nossos sentidos alcançam. Esta é a nossa natureza, e não podemos fugir a ela. Devemos aceitá-la como a única verdade lógica existente.

Mas a sementinha, curiosa, que não se conformava mais com uma ideia tão limitada de mundo, quis se aventurar. Com toda coragem, começou a subir... subir... subir... até que, encontrando o limite entre a terra e o ar, sentiu o calor do sol batendo em seu rosto e viu os raios luminosos do dia pela primeira vez.

 Ficou ao mesmo tempo assustada e embevecida. Não imaginava que pudesse existir algo assim tão belo.

Começou a conhecer o mundo, as coisas, as cores, as folhas, as flores, os rios, as árvores e o sopro do vento.

Em tanto encanto olhou para si mesma... E percebeu que também havia mudado. Já não era mais uma semente, era um broto, uma folhinha verde crescendo... E viu que tudo isso era bom, que o amor é uma melodia silenciosa que toca mais fundo na alma...

Como contar às outras o que descobriu? Não poderia mais voltar. Mesmo se voltasse elas não acreditariam.

Era grandioso demais tudo o que havia encontrado. Tão diferente daquela covinha escura debaixo da terra. Contudo, era ainda lá que mantinha suas raízes, que lhe davam forças para ficar de pé e energia para viver.  E isso também era bom.

Quando chegou a noite, a lua clareou o céu e as estrelas brilharam intensamente. A “sementinha em folha” viu que ainda havia muita coisa para conhecer e amar. E, mesmo que viesse a sofrer por isso muitas vezes, valeria à pena.

Sim, valeria à pena doar todo o seu perfume e toda a sua essência aos braços do infinito céu azul, cheio de mistérios e estrelas cintilantes.

Floresta de Poesia, páginas 23 a 27, de Wagner Fernandes Fonseca.

Nenhum comentário:

Postar um comentário